29.1.09

O Curioso Caso de Benjamin Button

O Curioso Caso de Benjamin Button foi o filme com o maior número de indicações ao Oscar: 13, incluindo a de melhor ator para Brad Pitt. Ele interpreta o estranho homem que dá título ao longa. Filho de um empresário do ramo de botões, quando nasce, no final da década de 10, a mãe morre. Ele tem um aspecto tão repulsivo, que é abandonado pelo pai na porta de um asilo e adotado por Queenie, a negra que toma conta dos velhinhos.

O lugar é ironicamente apropriado, já que logo se vê que Benjamim nasceu com todas as características de um velho de 80 anos. Sofre até de catarata. É no asilo que ele conhece e se afeiçoa a uma ruivinha que quer ser bailarina, neta de uma das velhinhas. E os dois se tornam amigos.

É a ruiva Daisy que conta a história. O anúncio da chegada do furacão Katrina, indica que estamos na Nova Orleans de 2005. Daisy, uma incrivelmente envelhecida e quase irreconhecível Cate Blanchet, está muito doente, internada em um hospital. A filha está lendo o diário de Benjamin e Daisy vai acrescentando lembranças à história, e dessa forma o filme vai e volta no tempo. E assim vamos acompanhando o relacionamento do protagonista, que vai rejuvenescendo, com Daisy, que segue o curso normal da vida e envelhece à medida que o tempo passa.


Além disso, conhecemos as pessoas que ele encontrou durante a vida ao contrário, que marcaram a vida dele, cada uma de uma maneira: o amigo pigmeu tão solitário e excluído quanto Benjamin aos 70 e tantos anos, o marinheiro que o leva a um bordel, um velhinho que foi atingido por 7 raios e não morreu e que rendem boas risadas durante todo o filme, a inglesa do hotel...

No meio do caminho, pinçamos frases que dizem muito sobre relacionamentos de todos os tipos e sobre o modo que cada um escolhe viver e lida com as perdasda vida. De modo que não importa se você envelhece ou rejuvenesce, mais importante é COMO você vive a vida. É esse o espírito do filme!


Além do ótimo roteiro de Eric Roth, o mesmo de Forest Gump, a habilidade dos atores em interpretar personagens em diversas fases da vida, de várias idades é notável. Brad Pitt está impressionante, mesmo com a ajudinha da equipe técnica do filme. O mesmo vale para Blanchet, como uma bailarina de 20 e poucos e uma idosa à beira da morte.

O Curioso Caso de Benjamim Button, baseado em um conto de F. Scot Fitzgerald, é dirigido por David Fincher, o mesmo de Clube da Luta, Seven e Zodíaco.

16.11.08

[REC]

O espanhol "[REC]" é tudo o que querem ser as Noites e Mundos do Terror promovidos por parques de diversões. Perseguições, correria, sangue, gritaria e muitos, muitos sustos. O filme tem feito bilheterias gordas na Espanha e no México. Dirigido por Jaume Balagueró e Paco Plaza, "[REC]" começa tranqüilo, com a loirinha Manuela Velasco, que é uma atriz espanhola bem popular, com o microfone na mão, olhando para a câmera. Ela é repórter do programa noturno “Enquanto Você Dorme” e vai acompanhar a rotina em um quartel do Corpo de Bombeiros, junto com Pablo, o cinegrafista. E é pela câmera na mão dele que você acompanha o desenrolar da madrugada, é o que ele está gravando que está na tela.

A primeira ocorrência dos Bombeiros é atender uma mulher idosa que está presa em um apartamento e não pára de gritar. Chegando lá, os demais moradores do prédio estão no hall de entrada. Quando os policiais chegam ao apartamento, a velha surge berrando que nem louca, se debatendo, agarra um policial, morde e arranca um pedaço do rosto dele. Tudo filmado por Pablo, em closes bem incômodos.

Os zumbis vão se multiplicando em velocidade aterrorizante, já que todo mundo que é mordido vira um deles. E pra piorar as autoridades resolvem lacrar o prédio, por ameaça de epidemia de uma doença infecciosa. Os seres humanos normais, portanto, vão sendo cada vez mais encurralados por mais e mais zumbis sangrentos, histéricos e assustadores.

A repórter repete o tempo todo para que Pablo não páre de gravar, de modo que um corpo desaba do terceiro andar, dois zumbis atacam ao mesmo tempo a repórter, o policial e o médico, mas Pablo não desliga a Câmera. A repórter passa então a entrevistar as pessoas, porque diz que precisa mostrar o absurdo que se passa dentro do prédio. E aqui você pode até tentar parar um pouco de sentir medo e ponderar até que ponto a imprensa deve ir e com que finalidade usa as reportagens que produz.

"[REC]" tem momentos aterrorizantes de verdade, em que me peguei tapando os ouvidos para não ser vítima dos sustos sonoros que o filme nos prega. Os atores, inclusive, também foram vítimas de alguns sustos. Algumas cenas foram gravadas sem que eles soubessem o que ia acontecer. Então, algumas reações que você vê na tela são absolutamente reais e verdadeiras.



Vencedor de vários prêmios europeus, o filme já teve a continuação anunciada pelos diretores. Mas os detalhes ainda não foram divulgados.

Vicky, Cristina, Barcelona

Já faz alguns anos que Woody Allen se aventurou por outras paragens e deixou de ambientar histórias em Nova Iorque. Descontente com a obsessão cada vez maior dos grandes estúdios por bilheterias e perdendo o lugar dele ao sol, o cineasta filmou os três últimos longas em Londres: "Match Point", "Scoop – O Grande Furo" e "O Sonho de Cassandra".

Da Terra da Rainha partiu para o território de Gaudí e Miró, em “Vicky, Cristina, Barcelona”. Não é à toa que o nome da cidade está no título como uma personagem. Woody Allen retrata lindamente e talvez com alguma obviedade a arquitetura, as curvas, as cores e - por que não? - toda a sensualidade da cidade catalã, que tem quase vida própria no filme.

Rebeca Hall é Vicky, Scarlett Johansson, mais loira do que nunca, é Cristina. As duas amigas vão passar uma temporada na Espanha. Vicky é séria, cheia de conceitos e está prestes a se casar com um homem ultra convencional. Vai a Espanha fazer mestrado. Já Cristina é extremamente liberal, acabou de terminar um relacionamento e abandonou um curta metragem antes do fim. Quer um homem diferente, capaz de surpreendê-la. Vai a Espanha acompanhar a amiga.

Em um jantar, são abordadas pelo artista plástico Juan Antonio, interpretado por Javier Bardén, que, tão liberal quanto Cristina, convida as duas para uma viagem a Oviedo para ver uma escultura, passear e... transar! Vicky acha a proposta inconcebível. Cristina aceita na hora.

Depois do fim de semana em que Juan Antonio planeja ficar com uma, mas acaba atacando a outra, Cristina vai morar com ele. Em seguida o pintor recebe em casa, recém saída do hospital por tentativa de suicídio, a ex mulher com quem tem uma relação irritantemente passional: Maria Helena, em ótima atuação de Penélope Cruz. Então, os três passam a morar juntos.

Enquanto Cristina experimenta e tenta se adaptar àquela situação pouco convencional, Vicky recebe o noivo em Barcelona, mas não consegue parar de pensar em Juan Antonio e tudo o que ele representa. A medida que se deixa provar algumas situações, a quadradinha vai saboreando ímpetos de impulsividade. E a inconseqüente que não sabe o que quer começa a perceber alguma graça em ter relacionamentos estáveis e vida planejada. Na verdade, elas só querem encontrar o tal do maldito equilíbrio que lhe permitam ser felizes.

Mais uma vez, Woody Allen retrata sem julgamentos os dramas e as facetas das pessoas e coloca uma lente de aumento bem potente sobre os relacionamentos, dos mais certinhos, até os menos convencionais.

Ah, e os eufóricos pela tão falada cena quente entre Penélope Cruz, Scarlet Johansson e Javier Barden podem se decepcionar...

21.10.08

Mostra?

Que Mostra?

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16.10.08

Na Mira do Chefe

O título original de Na Mira do Chefe já diz um pouco sobre o filme: In Bruges. É na cidade medieval da Bélgica que os matadores irlandeses Ray e Ken, vividos por Colin Farrel e Brendan Gleeson, vão passar algumas semanas para esfriar a cabeça às vésperas do Natal. É lá que eles têm de esperar uma ligação do chefe, interpretado por Ralph Fiennes, que vai dar ordens e orientações para o próximo trabalho.


Ray não vê a menor graça em visitar museus, igrejas góticas, navegar pelos canais ou andar pelas ruas de paralelepípedo e pontes da cidade, super visitada por gente do mundo inteiro, o que faz com que o colega lhe dê o título de “o pior turista do planeta”.


Na estada na cidade Belga, os dois se deparam com figuras bizarras: prostitutas, um ator anão, e Cloë, com quem Ray ensaia um romance. Quando conhece a moça, um tanto misteriosa, acha que ela é atriz, mas logo vê que ela tem uma atividade e um passado meio obscuros.

Em algum momento do filme, também questionam a atividade que praticam, os crimes que cometeram, a vida que escolheram levar. Ray não nasceu pra ser matador. Carrega uma baita culpa por ter assassinado uma criancinha por acidente, em uma das ações da dupla. Esta é a parte do dramática. A parte cômica é quase todo o resto de Na Mira do Chefe. Ray é bobo, bobo, bobo e por isso, muitas vezes engraçado. Alguns diálogos são ótimos. Também é boa a cena em que ele e o tal do chefe param uma perseguição no meio para tirar a dona do hotel do meio deles; e retomam a perseguição em seguida, do ponto onde pararam. Destaque também para a seqüência solo de Brendan Gleeson na torre do sino.


Mesmo se você achar o filme um desastre completo, você vai torcer para o Ray.
Se nem isso acontecer, aproveite o cenário e morra de vontade de ir ou voltar a Bruges, que é linda! E quem sabe você se empolgue com a trilha sonora.
Tem os velhos conhecidos do Pretenders, com Two Thousand Miles, a russa radicada nos Estados Unidos, Regina Spektor, com a deliciosa That Time e The Walkmen, banda de indie rock norte americana (sensacional descoberta do dia!!!), com Brandy Alexander. A banda se apresentou por aqui em 2004, num festival de música em Natal, no Rio Grande do Norte.

Na Mira do Chefe é a estréia na direção de longas do dramaturgo inglês Martin McDonagh, que também escreveu o roteiro do filme. Ele é autor de várias peças de teatro e ganhador do Oscar de 2006 de melhor curta-metragem com Six Shooter, também estrelado por Brendam Gleeson.

11.10.08

As Duas Faces da Lei

Dois craques do cinema, ganhadores do Oscar, atuam juntos pela primeira vez: Robert de Niro e Al Pacino. Eles integraram o elenco de O Poderoso Chefão 2, mas não contracenaram em nenhum momento do filme. Depois, trabalharam juntos em poucas cenas de Fogo Contra Fogo e agora, em As Duas Faces da Lei, formam uma dupla de policiais de Nova Iorque que está prestes a se aposentar.


De Niro é Turk e Al Pacino, Rooster. São investigadores e precisam descobrir quem é o serial killer que tem um modus operandi bem peculiar: depois de matar as vítimas deixa a arma no local do crime e um poema escrito num pedaço de papel. O criminoso pode ter relação com um cafetão, interpretado por 50 Cent.

No início do filme, ouvimos uma narração. O personagem de De Niro fala sobre a carreira policial e justifica o fato de limpar os criminosos das ruas, o que o sistema judiciário leva mais tempo para fazer. À medida que novos crimes são descobertos e vão sendo investigados, o diretor tenta te convencer mais e mais de que o próprio Turk é o assassino em série. Por exemplo: ele tem algum tipo de ligação com boa parte das pessoas assassinadas. Então, ele passa a ser suspeito dentro da própria polícia, abrindo caminho para dois jovens investigadores, sedentos por descobrir provas contra Turk, num movimento interessante de espionagem e contra espionagem. Mesmo com tudo isso, o espectador mais atento vai perceber que tem um pequeno detalhe no início do filme que não se encaixa ali, e, portanto, pode ser que Turk não seja o assassino, como tenta fazer crer o longa.


O roteiro e todas as suas reviravoltas são interessantes, mas os personagens dos dois astros protagonistas parecem simples demais pro calibre deles.
A direção de “As duas faces da Lei” é de Jon Avnet, de Tomates Verdes Fritos e Insurreição, e o roteiro de Russel Gerwirtz, que também escreveu O Plano Perfeito.

Fatal

Fatal é baseado no romance de Philip Roth, “O Animal Agonizante”, e traz Ben Kingsley e Penélope Cruz no elenco. Ben Kingsley é David Kepesh, um professor de faculdade, que, quando o filme começa, está divulgando a nova obra dele, sobre as origens do hedonismo norte-americano. Ele é absolutamente vulnerável à beleza feminina e se apaixona com facilidade. Kepesh tem o hábito de levar algumas das alunas dele para cama. É casado com Carolyn, que respeita o espaço dele, mas não tolera traição. A esposa representa um porto seguro para Kepesh. No fundo, é segurança que lhe falta. Além disso, o professor não lida muito bem com a chegada da velhice, porque, como ele mesmo diz no filme, na cabeça dele nada mudou. Um personagem complexo, portanto, interpretado com maestria por Kingsley.



A nova paixão de Kepesh é a linda Consuela, interpretada por Penélope Cruz. Ele fica hipnotizado pela beleza da moça. E ela tem verdadeira admiração pelo professor e por tudo o que a figura de um professor representa. Ele passou a vida pulando de um relacionamento para outro, sem se comprometer. E apesar de resistir aos laços que Consuela tanto quer, ele começa a ficar ciumento e a pirar, achando que ela está saindo com alguém mais novo que ele.

E o relacionamento termina um ano e meio depois, justamente porque Kepésh parece incapaz de se comprometer e Consuela parece saber bem o que quer. E o espectador conclui que o professor sabichão tem ainda muito a aprender.



Através do romance dos dois e dos conflitos emocionais do protagonista, Fatal pode ter várias leituras, dependendo de quem vê. Passa por temas como solidão, velhice, capacidade de doação, a dor da perda dos amigos, amadurecimento e traição.

A ressalva é em relação a escolha de Penélope Cruz para o papel de uma universitária. É bem difícil de acreditar que ela tem uns 25 anos, mesmo com aquela franjinha juvenil no cabelo. A diretora é a espanhola Isabel Coixet, de A Vida Secreta da Palavras. No elenco, ainda estão Peter Sarsgaard, Patricia Clarkson e Dennis Hopper.

30.9.08

DVD: Zona do Crime

Três moradores de uma favela aproveitam a queda de energia provocada por um temporal e invadem um condomínio fechado de alto padrão, repleto de câmeras de segurança e cercas eletrificadas. Quando estão roubando a primeira casa, são surpreendidos por uma mulher. Que é morta por eles. A empregada aciona o alarme e, em vez de chamar a polícia, os moradores do condomínio decidem resolver o caso e - aqui cabe perfeitamente a tão desgastada expressão - “fazer justiça com as próprias mãos”.

Essa história poderia se passar em São Paulo, no Rio, em Belo Horizonte ou em qualquer grande cidade, em qualquer país assolado pela segregação social. No entanto, Zona do Crime se passa na Cidade do México e é dirigido com maestria por Rodrigo Plá.

Mostra situações que estamos cansados de ver por aqui, no cinema e na vida real: o universo super protegido de uma classe privilegiada, que sente pavor quando tem a segurança ameaçada pelos pobres.

No filme, logo se sabe que nenhum dos três rapazes consegue sair do condomínio, chamado La Zona. Dois foram assassinados pelos moradores e tiveram os corpos escondidos. O terceiro, Miguel, se perdeu por algum canto da fortaleza. O pânico leva as pessoas a se armarem de revólveres, apitos, lanternas e cachorros na perseguição incessante e vingativa ao menino. Impedem a polícia de investigar o crime, de entrar no condomínio, fazem reuniões para decidir o andamento dos trabalhos.

Entre os moradores, poucos acreditam que o "olho por olho, dente por dente" resulta em uma sociedade mais justa. Eles se opõem ao esquema e são duramente repreendidos pela maioria, que está convencida de que o mesmo dinheiro que compra mansões e carros importados também compra a condescendência da justiça e a omissão da polícia. É a lei do mais forte. E o mais forte quase sempre é o mais rico.

Sem fazer concessões, Zona do Crime suscita várias perguntas: quem é vítima do quê? Quem é vítima da violência de quem? Quem é culpado? Existe um? Existe crime inaceitável e crime tolerável?

Nos extras do DVD, o diretor Rodrigo Plá diz que a idéia é justamente essa: levar algumas questões ao espectador. Diz que o filme é uma amostra do que acontece no mundo, citando o enorme muro que existe entre México e Estados Unidos. E a política européia em relação aos estrangeiros? Será que não é o mesmo muro?

Não foi à toa que Zona do Crime levou o prêmio de melhor filme latino americano no Festival de Veneza e o prêmio da crítica no Festival de Toronto no ano passado.

Nos extras, além de pequenas entrevistas com Rodrigo Plá e o elenco, você encontra um curta metragem não menos interessante do mesmo diretor. O Olho na Nuca é estrelado por Gael Garcia Bernal e também aborda vingança e a justiça.

16.9.08

Mamma Mia!

Tem quem adore, tem quem odeie. É difícil ficar no meio termo quando se trata de musicais. Mamma Mia tem sido considerado um fenômeno de público nos países por onde passou. A estimativa é bater os 200 milhões de dólares no mercado internacional. O filme estrelado por Meryl Streep e Pierce Brosnan é baseado no espetáculo teatral inglês que há 5 anos está em cartaz no Hotel Mandalay, na Broadway, com canções do grupo sueco ABBA.



Como em todo bom musical, as canções fazem parte da narrativa e ajudam a contar a história. E em Mamma Mia ela é a seguinte: Sophie, interpretada por Amanda Seyfried, mora com a mãe, Dora Sheridan, papel de Meryl Streep, em uma paradisíaca ilha grega. Elas cuidam de um hotel e levam uma vida meio riponga. Às vésperas de se casar, Sophie não sabe quem é o pai dela, mas descobre um diário da mãe e encontra três possibilidades: Bill, Sam e Harry, respectivamente Stellan Skarsgård, Pierce Brosnan e Colin Firth


Ela convida os três para o casamento, sem a mãe saber. E eles vão! E vão dando um indício aqui e outro ali de que são pais dela. Dora tenta se livrar dos três com a ajuda de duas amigas que também foram à ilha para o casamento. E no meio de tudo isso vão surgindo as músicas do ABBA, cantada pelos próprios atores.

O que para uns pode ser muito divertido, para outros pode causar um pouco de vergonha alheia. Por exemplo: a cena em que as personagens de Meryl Streep, Julie Walters e Christine Baranski acham que tem 17 anos e pulam, dançam e cantam empunhando escovas, secadores de cabelo e desodorantes que fazem as vezes de microfone, envoltas em plumas e um figurino improvisado.


Amanda Seyfried, além de linda, canta muito bem. Meryl Streep também é uma boa surpresa nos vocais. Agora, Pierce Brosnan... Bem, primeiro: é um pouco estranho ver um ex 007 cantando músicas do ABBA. Depois, digamos que ele está beeem longe de ser um tenor.


Se você é do time dos que amam musicais, certamente vai sair do cinema feliz da vida, cantarolando Dancing Queen, Take Chance on Me ou Mamma Mia!... afinal, foi pra isso que o filme foi feito.

Ah, e não saia da sala antes do final dos créditos pra não perder o bis!

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14.9.08

Linha de Passe

O filme de Walter Salles e Daniela Thomas conta a história de uma família: Cleusa, papel de Sandra Corvelone – que ganhou a Palma de Ouro em Cannes - e os quatro filhos dela moram em Cidade Líder, bairro da periferia de São Paulo. Vinícius de Oliveira, de Central do Brasil, desta vez interpreta Dario, um jovem que sonha em ser jogador de futebol profissional. As peneiras nos clubes, nas quais ele nunca é aceito, é que marcam o tempo da narrativa do longa.

Dênis é motoboy, pai ausente de um bebê e não consegue sustentar o filho porque precisa acabar de pagar a moto. Dinho trabalha como frentista e no tempo livre vai louvar a Deus em um templo evangélico. O caçula e único filho negro é Reginaldo, que vive em busca do pai, um motorista de ônibus que ele não sabe quem é. E Cleusa, grávida, tenta criar todos eles da melhor forma. Trabalha como empregada doméstica e é dispensada pela patroa no final da gestação. Sutilmente, as histórias de todos eles se entrelaçam, mas o filme não tem propriamente um fio condutor, um começo-meio-e fim. É como se fosse um recorte aleatório em algum momento da vida daquela família.


A força de Linha de Passe está nas interpretações realistas dos atores, quase todos desconhecidos. Além de Sandra Corvelone e Vinícius de Oliveira, fazem parte do elenco João Baldasserini – Denis -, José Geraldo Rodrigues - talvez o melhor deles, como Dinho – e o menino Kaique de Jesus Santos – Reginaldo – uma feliz descoberta de Fátima Toledo, preparadora de elenco, em uma ONG do Capão Redondo, bairro aonde ele mora.

Na primeira cena de Dinho, ele está em um culto evangélico, entoando um canto que traduz bem a intenção dos cineastas com o longa. Os versos falam que os fiéis devem se livrar do complexo de inferioridade e mostrar o valor que têm. Daniela Thomas diz que os personagens de Linha de Passe estão em busca da própria reinvenção.
“É essa idéia da luta entre o desejo e a oportunidade. O homem contra a cidade, né, lutando pra tentar ser visto, pra ser enxergado, pra ter oportunidade, pra poder ser feliz.”


É também um filme sobre a invisibilidade de uma classe social em relação a outra, o que fica bem claro na cena em que um homem dirigindo um carro importado bate na moto de Dênis. Sobre isso a atriz Sandra Corvelone acredita que o filme pode fazer o espectador refletir.
“Quantas pessoas vão trabalhar na sua casa e você não sabe nem o nome, você não sabe o que acontece na vida daquela pessoa. Tem gente que é capaz de pagar 2 mil reais por uma bolsa, 5 mil reais por um par de brincos e pechincha para pagar uma diarista. Isso é o cúmulo, é o fim da picada!”

Linha de Passe pode ter diferentes leituras. Em uma delas, o filme desfaz a associação cada vez mais freqüente entre pobreza e criminalidade (o filme não mostra sequer uma arma), já que os personagens buscam o melhor caminho para sobreviver na periferia, lugar aonde impera o fanatismo, seja religioso ou futebolístico, e os jovens honestos são muitas vezes tidos como trouxas.

Por outro lado, pode reforçar a idéia de que essa busca pela reinvenção, pelo melhor caminho, é em vão, porque a classe baixa sempre é esmagada pela mais alta. E, assim, a frustração nessa busca e a falta de alternativa justificam qualquer atitude.


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Ensaio Sobre a Cegueira

Não li tudo o que saiu sobre o novo filme de Fernando Meirelles, mas as análises que eu li me deixaram intrigada. Dois jornalistas criticam o fato de Meirelles ter se mantido muito fiel ao livro de José Saramago. Avaliam a fidelidade como negativa, dizem que ele deveria ter ousado mais. Às vezes eu não entendo esses críticos. Aposto que se o diretor tivesse ido muito além do livro, seria igualmente criticado por isso.

Parece que Saramago gostou do resultado na tela:



Eis minhas humildes impressões:

Em Ensaio Sobre a Cegueira, personagens sem nome e sem passado são acometidos por um doença misteriosa que faz com que todos fiquem cegos, à execeção de uma mulher, chamada pelo autor de "a mulher do médico". Eles são mantidos em quarentena em um manicômio. Sem o menor auxílio do governo, vivendo em condições sub humanas, se forma ali uma sociedade paralela que estabelece regras próprias. No limite da sobrevivência, aquelas pessoas passam a relativizar os valores morais e materiais. Resgatam sentimentos nobres, como a solidariedade e o altruísmo. Mas também escancaram seus lados mais podres, a ambição, o oportunismo.

O 'ver e não enxergar' de Saramago, como metáfora das relações sociais, é levada à tela por Fernando Meirelles com aspecto visual forte. As imagens são muito claras. A iluminação é estourada. Os planos são muitas vezes mal enquadrados e sem foco. O diretor pretende provocar no espectador uma sensação parecida com a dos personagens.
"A partir de um certo momento nós usamos muito reflexo. Então, às vezes vocês está vendo a imagem, acha que é real, mas é a imagem virtual, a imagem que está partida em dois, três... Muitos planos mal enquadrados, como se a câmera estivesse sendo operada por uma pessoa cega. Esses truquinhos todos foram soluções para colocar o espectador nesse mundo da cegueira."

O aspecto muito branco envolveu também a protagonista do longa, a atriz Julianne Moore.
"No nosso primeiro encontro, Fernando me disse: eu acho que você deveria engordar um pouco e cortar o cabelo. Eu concordei. Eu achava que a personagem deveria ser loira e ele disse: não, não. Mas eu não contei pra ele que eu sou loira, de qualquer forma. Eu sentia que a personagem tinha que ser loira. Seria perfeito, por causa da palidez do filme."

A sonoridade também é muito salientada em Ensaio Sobre a Cegueira. Buzinas de carro, freadas bruscas, o despertador, o liquidificador ligado. O som disso tudo é muito aguçado, o volume é alto, como se para compensar a falta de visão. Uma campainha, uma sineta, está presente durante todo o filme para "avisar" o espectador de que mais alguém ficou cego. Com o som, e não a imagem, evidenciado, até uma cena de sexo se torna sutil.

As cenas externas foram filmadas em uma São Paulo sem identidade, quase irreconhecível. E um presídio canadense desativado foi transformado no manicômio.

Ensaio sobre a Cegueira é uma co-produção de Brasil, Japão e Canadá. Traz no elenco além de Jullianne Moore, Mark Rufalo, Dennis Glover, a brasileira Alice Braga e o mexicano Gael Garcia Bernal (em quem você vai ter vontade de dar um tiro).

Quase sempre que uma obra literária é adaptada para o cinema, se diz que o livro é melhor do que o filme. S você leu o livro de Saramago, faça a sua comparação. Se não leu, é bem possível que você saia do cinema e passe em uma livraria.

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Bossa Nova Iorque

Rodrigo Santoro é Joaquim, Ângelo Paes Leme é Davi, Jair Oliveira vive Geraldo e André Moraes, Paulo César, o PC. Eles formam o quarteto musical Os Desafinados, que um dia se apresenta para um gringo com a promessa de uma carreira bem sucedida. Antes mesmo de terem a resposta, já estão super animados, fazendo planos internacionais. No fim, são preteridos pelo gringo, mas decidem partir para Nova Iorque mesmo assim.


Os quatro, mais o amigo Dico, um jovem cineasta ansioso pelo primeiro filme, interpretado pelo quase sempre ótimo Selton Mello, se amontoam em um quartinho minúsculo e saem pela cidade para arrumar onde tocar. É a música que apresenta Joaquim a Glória, papel de Cláudia Abreu, em pleno Central Park, ao som do violão dele e da flauta transversal dela. Glória vira a vocalista do grupo. E Joaquim vive um conflito, já que se apaixona por Glória, apesar de ter deixado a mulher grávida no Brasil.

Com exceção de André Moraes e Jair Oliveira, que são músicos, os demais tiveram de aprender a tocar alguns instrumentos e ensaiar bastante. Cláudia Abreu teve de aprender flauta transversal. E Santoro já é quase um pianista. O diretor Walter Lima Jr. conta que ele aprendeu, na marra, a tocar uma canção de Chopin, depois de exaustivos 5 meses de ensaios de até 8 horas por dia.


O filme revela alguns talentos musicais dos atores e o talento para interpretar dos músicos. André Moraes e Jair Oliveira podem são ser atores brilhantes, mas funcionam bem nos papéis. O quarteto parece muito entrosado musicalmente e Walter Lima Jr. garante que não foi truque de finalização do filme, não. Ele diz que foi tão prazeroso e os rapazes ficaram tão amigos, que vão sair em turnê pelo Brasil, tocando as músicas do filme - com exceção de Santoro, por problemas de agenda.

O longa é repleto de referências pessoais de Walter Lima Jr. O nome dos personagens, por exemplo, foi uma homenagem a amigos (também do mundo das artes). O filme que Dico dirige no longa é do próprio Walter e nunca foi filmado. Foi Selton Mello, aliás, que dirigiu o filme dentro do filme, com o consentimento de Lima Jr.

Os Desafinados se passa em dois tempos: o presente, em que os amigos já beiram os 50 anos e se reúnem em um bar de Copacabana para uma filmagem de Dico, e o passado, 25 anos antes, quando eles desbravam Manhattam e vivem experiências musicais, amorosas e existenciais. O pano de fundo do filme é a realidade política, social e cultural da década de 60. Tudo num clima bem bossa nova...

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Tropic Thunder

Trovão Tropical é escrito, produzido, dirigido e protagonizado por Ben Stiller, de Quem Vai Ficar com Mary? e Quero Ficar com Polly. Trata-se de uma comédia rasgada que tira o maior sarro da cara de Hollywood.


A história é a seguinte: Stiller é Tugg Speedman, um ator decadente que é paparicado o tempo todo pelo agente, sem quem ele não vive. Tipo uma babá. Speedman integra um elenco que está fazendo um filme de guerra no Vietnã e conta com o longa pra se reerguer. O filme começa com uma seqüência interminável de batalha, helicópteros, bombas e explosões que lembram muito O Resgate do Soldado Ryan. O problema começa quando o diretor coloca todo mundo no meio da mata, os atores se desentendem e vão parar nas mãos de um grupo produtor de heroína.

No elenco estão Jack Black - de Escola de Rock -, Robert Downey Jr. (numa caracterização impressionante), Matthew McConaughey, Brandon T. Jackson e Steve Cooney, com particpações especiais de Nick Nolte e Tom Cruise. Aliás, por falar em caracterização, Tom Cruise faz uma participação tão especial que eu te desafio a reconhecer o astro de Missão Impossível assim, logo de cara.

Trovão Tropical faz referências à filmes e atores o tempo todo. Ridiculariza o egocentrismo deles. Basta dizer que o soldado de olhos puxados se chama Alpa Chino e que um outro, em determinado momento, afirma que não lê o roteiro, é o roteiro que lê ele. O filme satiriza também os estúdios, os diretores e até o Oscar... Ninguém - ou quase ninguém - escapa das piadas afiadas de Ben Stiller.

Ele continua excessivamente careteiro, assim como Jack Black, mas apesar disso e da grande dose de besteirol, o longa tem diálogos inteligentes e engraçados. Filmado no Havaí, é a produção mais vista nos Estados Unidos desde que estreou, em 15 de agosto. Até a semana passada, tinha arrecadado mais de U$65,5 milhões e a previsão é de que ultrapasse os U$100 milhões.

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Obs. da série quebrando paradigmas: Nunca achei na vida que um dia eu escreveria sobre uma comédia. De Hollywood. Que eu gostasse minimamente.

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Um Crime Americano

Quando o filme começa, estamos em 1966, e uma adolescente brinca em um carrossel, narrando a história. Em seguida, o filme nos leva a um tribunal sem que a gente entenda muito bem o que uma coisa tem a ver com a outra.

É assim, entre idas e vindas no tempo, que o diretor Tommy O’Haver reconstrói a história real de Silvia Likens na cidade de Indianópolis (a cidade natal do diretor), que chocou os Estados Unidos, em 1965.



A protagonista é vivida por Ellen Page, que foi indicada ao Oscar do ano passado como melhor atriz por Juno. E aqui, no thriller Um Crime Americano ela mostra que a indicação não foi à toa.

Os pais de Sílvia trabalham em um parque de diversões e deixam a menina e a irmã, Jennie, por um longo período na casa de Gertrudes Baniszewski, uma mãe solteira de 7 crianças, interpretada por Catherine Keener, indicada ao Oscar por Capote e Quero ser John Malkovitch. Doente e sem dinheiro, ela aceita cuidar das duas irmãs Likens, mediante um pagamento mensal.

A convivência começa bem e quando você começa a achar que as duas foram naturalmente integradas àquela família um tanto estranha, a filha mais velha de Gertrudes se desentende com Sylvia. E aí começa o pesadelo dela.

Gertrudes tem severos métodos de educação e punição. Toma remédio e tosse o tempo todo, tem total domínio sobre os filhos e faz o que for preciso para protegê-los. As punições à Sylvia incluem sessões organizadas de torturas físicas e psicológicas. Os vizinhos se omitem. As crianças não só se omitem, como participam daquele ritual insano, mostrando o lado mais perverso delas.

Sylvia é aprisionada, torturada e morta no porão da casa de Gertrudes, em Indianópolis. E a família depois é julgada por isso.


Quase todos os diálogos do filme foram baseados nos depoimentos dados no tribunal, durante o julgamento.

Todo o elenco vai muito bem, mas o ponto alto do filme é a interpretação de Ellen Page e Catherine Keener, que dão uma aula. Page chegou a emagrecer visivelmente durante as filmagens por causa da personagem, que fica sem comer.

Em Um Crime Americano importa menos o final da história, até porque ela é real e, portanto, já conhecida. O que interessa é a forma como essa história é contada no cinema: com idas e vindas no tempo, sem poupar o espectador da brutalidade, mas sem fazer julgamentos.